Na madrugada o mundo é diferente.
Não sei porque, mas na madrugada
Entre ruas semi-desertas
E moribundos que rodeiam lugares sujos a procura de comida,
Ou algo qualquer que lhes dêm a si mesmos,
O mundo é diferente.
Tem sempre um som no infinito,
Corujas, morcegos, alguém gritando ao longe...
Nem importa, na madrugada quase tudo se funde,
Sonhos e memórias, fatos e mentiras,
Quase tudo se torna um só ruído
Entre as árvores escuras.
Na luz fria,
Sorriso nublado de Lua.
A noite é uma criança
Com fome.
Ninguém sabe ao certo se o Sol nasce
E a criança acorda,
Ou se morre de fome mesmo.
E se não houver amanhã?
(...)
Só quando se está apaixonado a vida vale a pena,
Não importa por quem ou por o que,
Só quando se está apaixonado o tempo faz sentido.
Mulheres, cinema, grana...
A paixão movimenta o mundo como o vento um moinho.
É a droga na qual nós já nascemos viciados,
E quanto maior a dose mais queremos,
E queremos, queremos...
Sem paixão há no máximo uma sobrevivência,
Pilhas de nervos, quartos escuros e ruas sem retorno.
A madrugada é pura magia,
Pura imaginação, pura aventura.
É o habitat dos mendigos e o abrigo dos poetas,
Ou vice-versa.
Na madrugada se mata por orgasmo.
Por quinze secundos se esquece
Que a grama é mais verde do outro lado da cerca elétrica,
O sorriso é mais alegre do lado quente da vidraça.
E entre tantos que já tive,
Entre tantas que mantenho,
Ela talvez seja uma de minhas paixões mais constantes:
Minha paixão calada.
2002
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